É verdade que quando estamos vulneráveis ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos numa câmara de tortura (que chamamos de incerteza) e assumimos um risco emocional enorme. Mas nada disso tem a ver com fraqueza.
A percepção de que estar vulnerável seja sinal de fraqueza é o mito mais amplamente aceito sobre a vulnerabilidade – e também o mais perigoso.
Quando passamos a vida nos afastando e nos protegendo de um estado de vulnerabilidade ou de sermos vistos como sentimentais demais, ficamos contentes quando os outros são menos capazes de mascarar seus sentimentos.
Chegamos ao ponto de, em vez de respeitarmos e admirarmos a coragem e a ousadia que estão por trás da vulnerabilidade, deixarmos o medo e o desconforto se tornarem julgamento e crítica.
Vulnerabilidade não é algo bom nem mau: não é o que chamamos de emoção negativa e nem sempre é uma luz, uma experiência positiva. Ela é o centro de todas as emoções e sensações.
Sentir é estar vulnerável.
Acreditar que vulnerabilidade seja fraqueza é o mesmo que acreditar que qualquer sentimento seja fraqueza. Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida.
Nossa rejeição da vulnerabilidade deriva com frequência da associação que fazemos entre ela e as emoções sombrias como o medo, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepção – sentimentos que não queremos abordar, mesmo quando afetam profundamente a maneira como vivemos, amamos, trabalhamos e até exercemos a liderança.
O que muitos não conseguem entender, e que me consumiu uma década de pesquisa para descobrir, é que a vulnerabilidade é também o berço das emoções e das experiências que almejamos.
Quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade.
Sei que é difícil acreditar nisso, sobretudo quando passamos tanto tempo achando que vulnerabilidade e fraqueza são sinônimos, mas é a pura verdade. Vulnerabilidade é incerteza, risco e exposição emocional. Com essa definição em mente, vamos pensar sobre o amor.
Acordar todos os dias e amar alguém que pode ou não nos retribuir, cuja segurança não podemos garantir, que pode estar em nossas vidas um dia e partir sem aviso no outro, que pode ser fiel até a morte ou nos trair no dia seguinte – isso é vulnerabilidade.
O amor é incerto e oferece um risco incrível. Amar alguém nos deixa emocionalmente expostos. Sim, é assustador e, sim, nós podemos ser magoados, mas você consegue imaginar a sua vida sem amar ou ser amado?
Exibir nossa arte, nossos textos, nossas fotos, nossas ideias ao mundo, sem garantia de aceitação ou apreciação, também significa nos colocar numa posição vulnerável.
Quando nos entregamos aos momentos felizes de nossa vida, mesmo sabendo que eles são passageiros e que o mundo nos diz para não sermos felizes demais para não atrairmos desgraça – essa é uma forma intensa de vulnerabilidade.
O grande perigo é que começamos a enxergar os sentimentos como fraqueza. Com exceção da raiva (uma emoção secundária, que serve apenas como uma máscara socialmente aceitável para muitas emoções secretas bem mais difíceis que experimentamos), estamos perdendo a tolerância em relação aos sentimentos e, em consequência, em relação à vulnerabilidade.
Se quisermos recuperar a parte essencialmente emocional de nossa vida, reacender nossa paixão e retomar nossos objetivos, precisamos aprender a assumir nossa vulnerabilidade e acolher as emoções que resultam disso.
Para alguns de nós é um aprendizado novo e, para outros, uma recapitulação. De qualquer forma, minha pesquisa me ensinou que a melhor maneira de começar é definindo, reconhecendo e compreendendo a vulnerabilidade.
A definição de vulnerabilidade se tornou realmente palpável para mim com os exemplos que as pessoas compartilharam quando pedi que completassem a frase: “Vulnerabilidade é ___________________.” Eis algumas das respostas:
Essas ações soam como fraqueza para você?
Colocar-se ao lado de alguém que atravessa uma grande dificuldade é fraqueza? Assumir responsabilidade é coisa de gente fraca? Voltar para o jogo depois de perder um gol feito é sinal de fraqueza? NÃO. Vulnerabilidade soa como verdade e é sinal de coragem. Verdade e coragem nem sempre são confortáveis, mas nunca são fraquezas.
É verdade que quando estamos vulneráveis ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos numa câmara de tortura (que chamamos de incerteza) e assumimos um risco emocional enorme. Mas nada disso tem a ver com fraqueza.
Quando pedimos que completassem a frase: “A sensação de estar vulnerável é __________”, as respostas foram igualmente significativas:
E sabe qual foi a resposta que apareceu inúmeras vezes em nosso esforço para entender melhor a vulnerabilidade? Estar nu.
A psicologia e a psicologia social produziram provas convincentes sobre a importância de admitir a vulnerabilidade. No campo da psicologia do bem-estar, estudos mostram que a vulnerabilidade percebida, ou seja, a capacidade de reconhecer nossos riscos e exposições aumenta grandemente nossas chances de aderir a algum tipo de programa de saúde mais positivo.
Para conseguir que os pacientes se comprometam com rotinas de prevenção, os psicólogos trabalham a vulnerabilidade percebida. E o que torna isso realmente interessante é que não é o nosso nível verdadeiro de vulnerabilidade que importa, mas o nível de vulnerabilidade que admitimos ter diante de certa doença ou ameaça.
No campo da psicologia social, pesquisadores da influência e da persuasão que examinam como as pessoas são afetadas por propaganda e marketing realizaram uma série de estudos sobre vulnerabilidade. Eles descobriram que os participantes que se consideravam imunes ou invulneráveis aos anúncios enganadores eram, na verdade, os mais suscetíveis.
A explicação dos pesquisadores sobre esse fenômeno diz tudo: “Longe de ser um escudo eficaz, a ilusão de invulnerabilidade desencoraja a reação que teria fornecido uma proteção genuína.”
Uma das experiências de minha carreira que mais gerou ansiedade foi falar na conferência TED a que me referi na Introdução. Como se não bastassem todos os medos naturais associados a dar uma palestra filmada de 18 minutos diante de uma plateia altamente bem-sucedida e de expectativa muito elevada, eu era a última palestrante do evento.
Durante três dias fiquei sentada assistindo a algumas das mais incríveis e instigantes explanações de minha vida.
Depois de cada uma delas eu me afundava um pouco mais na poltrona com a constatação de que, para a minha palestra funcionar, eu teria que desistir de tentar fazer como todos os demais e precisaria me conectar com a plateia.
Eu queria desesperadamente assistir a algo que eu pudesse imitar ou usar como modelo, mas as falas que me impactaram mais fortemente não seguiam um formato: elas foram simplesmente autênticas.
Isso quer dizer que eu teria obrigatoriamente que ser eu mesma. Precisaria estar vulnerável e aberta. Deveria deixar o texto de lado e olhar as pessoas nos olhos. Eu teria que ficar nua.
Quando finalmente pisei no palco, a primeira coisa que fiz foi travar contato visual com a plateia. Pedi aos técnicos de iluminação que ajustassem os refletores de maneira que eu pudesse ver as pessoas.
Eu precisava de conexão. Simplesmente ver a audiência como pessoas, e não como “a plateia”, me fez lembrar que os desafios que me assustavam – como estar nua – também metiam medo em todo mundo. Acho que essa é a razão pela qual a empatia pode ser conquistada sem a necessidade de palavras: basta olhar no olho do outro e receber uma resposta amistosa.
Durante a palestra perguntei ao público duas coisas que revelam bastante sobre os muitos paradoxos que definem a vulnerabilidade. Primeiro, indaguei: “Quantos de vocês se esforçam para não ficarem vulneráveis por associarem a vulnerabilidade à fraqueza?” Muitos levantaram as mãos por todo o auditório. Depois, perguntei: “Quando vocês viram as pessoas passarem por esse palco, se expondo e ficando vulneráveis, quantos acharam que elas eram corajosas?” Novamente, muitos levantaram as mãos.
Nós gostamos de ver a vulnerabilidade e a verdade transparecerem nas outras pessoas, mas temos medo de deixar que as vejam em nós. Isso porque tememos que a nossa verdade não seja suficiente – que o que temos para oferecer não seja o bastante sem os artifícios e a maquiagem, sem uma edição pronta para exibição. Eu estava com medo de subir ao palco e mostrar à plateia o meu verdadeiro eu – aquelas pessoas eram muito importantes, muito bem-sucedidas, muito famosas; o meu verdadeiro eu, por outro lado, é muito desordenado, muito imperfeito, muito imprevisível.
Eis o cerne da questão:
Quero testemunhar a sua vulnerabilidade, mas não quero ficar vulnerável.
Vulnerabilidade é coragem em você e fraqueza em mim.
Eu sou atraída pela sua vulnerabilidade, mas sou repelida pela minha.
Lembro-me de que, enquanto eu me aproximava do palco, tratei de me concentrar em meu marido, que estava na plateia, e em minhas irmãs e alguns amigos, que assistiam pela internet.
Também tirei coragem de algo que havia aprendido naquelas palestras da TED – uma lição inesperada que recebera sobre fracasso. A grande maioria dos palestrantes que me antecederam falou abertamente sobre o fracasso. Eles contaram suas desventuras e os insucessos que tiveram durante o processo de elaboração de seu trabalho e sobre como esses percalços só fortaleceram suas paixões. Isso me deixou impressionada e inspirada.
Quando chegou a minha vez, respirei fundo e esperei ser chamada enquanto recitava minha oração da vulnerabilidade: Dê-me coragem para aparecer e deixar que me vejam. Então, alguns segundos antes de ser apresentada ao público, me veio à mente a imagem de um peso de papel que está sobre a minha mesa de trabalho, onde se lê: “O que você tentaria fazer se soubesse que não iria falhar?” Empurrei essa pergunta para longe a fim de criar espaço para uma nova pergunta. Quando subi ao palco, literalmente sussurrei para mim mesma: “O que vale a pena fazer mesmo que eu fracasse?”
Sinceramente não me lembro muito do que falei, mas, quando tudo acabou, lá estava eu, mergulhada em completa vulnerabilidade novamente! O risco valeu a pena? E como! Sou apaixonada pelo meu trabalho e confio no que aprendi com os participantes da minha pesquisa.
Realmente acredito que conversas honestas sobre vulnerabilidade e sobre vergonha podem mudar o mundo. As minhas duas palestras foram falhas e imperfeitas, mas eu caminhei para a arena e dei o melhor de mim. O desejo de nos expor nos transforma. Ele nos torna um pouco mais corajosos a cada vez.
Desde telefonar para um amigo que passou por uma terrível tragédia até começar o seu próprio negócio, passando por ficar aterrorizado ao experimentar uma sensação de libertação, a vulnerabilidade é a grande ousadia da vida. O resultado de viver com ousadia não é uma marcha da vitória, mas uma tranquila liberdade mesclada com o cansaço gostoso da luta.
Do livro A Coragem de ser imperfeito de Brené Brown – Editora sextante
Aromas do mundo – Cipreste-europeu: a planta da imortalidade Esbelto
O mundo anda precisando de benzedeiras Se o mundo anda
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